O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, em colaboração com o Instituto Internacional de Teatro da UNESCO, assina e divulga a tradução da Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2025 em Português, da autoria do encenador grego Theodoros Terzopoulos.
Iniciado em 1961 pelo Instituto Internacional de Teatro ITI, o Dia Mundial do Teatro é comemorado anualmente no dia 27 de março, pelos Centros ITI e pela comunidade teatral internacional, tendo a primeira Mensagem do Dia Mundial do Teatro sido escrita por Jean Cocteau em 1962.
A cada ano, uma figura de relevo internacional do panorama teatral é convidada a compartilhar uma reflexão partindo do mote “Uma Cultura de Paz”, que é depois traduzida para mais de 50 idiomas e lida para dezenas de milhares de espetadores antes de apresentações em teatros de todo o mundo, assim como publicada em centenas de jornais diários e mais de cem estações de rádio e televisão, que transmitem a Mensagem para todos os cantos dos cinco continentes.
O pedagogo e encenador Theodoros Terzopoulos é o autor da Mensagem de 2025, que vem sendo divulgada com cada vez maior antecedência para potenciar a sua divulgação: Terzopoulos iniciou a sua atividade em 1967, contando distinções como o Prémio Lorca (Espanha, 1986), Prémio Stanislavski de Melhor Encenação (Rússia, 1993), Prémio Honorário de Teatro (Turquia, 2006), Prémio de Melhor Encenação (Festival das Nações, Seul, 1994), Prémio Internacional de Teatro Yuri Lyubimov (2020), Estrela da Calçada da Fama de Sibiu (Sibiu, Roménia, 2024), e Grande Prémio de Teatro da Associação Helénica de Críticos de Teatro e Artes Cénicas (Grécia, 2024).
Na Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2025, o autor grego lança um conjunto de questões, tais como: “Poderá o teatro ouvir o pedido de SOS que os nossos tempos estão a enviar, num mundo de cidadãos empobrecidos, fechados em células de realidade virtual, entrincheirados na sua privacidade sufocante?”, ou “Poderá o teatro tornar-se parte ativa do ecossistema?” ou ainda “Podem os holofotes do teatro lançar luz sobre o trauma social, e parar de se iluminar a si mesmo de forma enganadora?”, afirmando e problematizando, por outro lado, que “O teatro acompanha o impacto humano no planeta há muitos anos, mas está com dificuldades em lidar com este problema. Estará o teatro preocupado com a condição humana tal como está a ser moldada no século XXI, em que o cidadão é manipulado por interesses políticos e económicos, redes de comunicação social e empresas fazedoras de opinião? Onde as redes sociais, por mais que a facilitem, são o grande álibi da comunicação, porque proporcionam a necessária distância segura do Outro? Uma sensação generalizada de medo do Outro, do diferente, do Estranho, domina os nossos pensamentos e ações. Pode o teatro funcionar como laboratório para a coexistência de diferenças, sem levar em conta o trauma sangrento?”.
Terzopoulos cita ainda Heiner Muller a propósito do poder do Mito, instando-nos a olhar nos olhos do deus Dionísio, que nos “coloca uma questão ontológica fundamental: “de que é que trata tudo?”, uma questão que impulsiona o criador para uma investigação cada vez mais profunda sobre a raiz do mito e as múltiplas dimensões do enigma humano.”, culminando de forma lapidar com um olhar sobre o futuro: “Precisamos de novas formas narrativas destinadas a cultivar a memória e a moldar uma nova responsabilidade moral e política que emerja da ditadura multiforme da atual Idade Média.”.
O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana coopera com o Instituto Internacional da UNESCO desde 2017, traduzindo a Mensagem do Dia Mundial do Teatro para Língua Portuguesa e incentivando a sua partilha pelas comunidades teatrais lusófonas do mundo. Recentemente, a Companhia, que é residente do Teatro Municipal Sá de Miranda desde 1991, produziu um vídeo com a leitura da Mensagem de 2025 feita por profissionais da sua equipa, que foi publicado simbolicamente no passado dia 24 de fevereiro, quando se completaram 3 anos sobre o início da invasão russa à Ucrânia.
O vídeo, com dupla legendagem em Português e Inglês, pode ser visto na página oficial da Companhia, em www.tmsm.pt., ou aqui.
Ligação para a Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2025.
Instituto Internacional de Teatro ITI
Organização Mundial para as Artes Performativas
Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2025 – 27 Março
Autor da Mensagem: Theodoros TERZOPOULOS, Grécia
Encenador, Pedagogo, Autor, Fundador e Diretor Artístico da Attis Theatre
Company, Inspirador das Olimpíadas de Teatro e Secretário-Geral do Comité
Internacional das Olimpíadas de Teatro
Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2025 Theodoros TERZOPOULOS
Poderá o teatro ouvir o pedido de SOS que os nossos tempos estão a enviar, num mundo de
cidadãos empobrecidos, fechados em células de realidade virtual, entrincheirados na sua
privacidade sufocante? Num mundo de existências robotizadas dentro de um sistema totalitário
de controle e repressão em todo o espectro da vida?
Estará o teatro preocupado com a destruição ambiental, o aquecimento global, a perda maciça
de biodiversidade, a poluição dos oceanos, o derretimento das calotas polares, o aumento dos
incêndios florestais e os fenómenos meteorológicos extremos? Poderá o teatro tornar-se parte
ativa do ecossistema? O teatro acompanha o impacto humano no planeta há muitos anos, mas
está com dificuldades em lidar com este problema.
Estará o teatro preocupado com a condição humana tal como está a ser moldada no século XXI,
em que o cidadão é manipulado por interesses políticos e económicos, redes de comunicação
social e empresas fazedoras de opinião? Onde as redes sociais, por mais que a facilitem, são o
grande álibi da comunicação, porque proporcionam a necessária distância segura do Outro?
Uma sensação generalizada de medo do Outro, do diferente, do Estranho, domina os nossos
pensamentos e ações.
Pode o teatro funcionar como laboratório para a coexistência de diferenças, sem levar em conta
o trauma sangrento?
O trauma sangrento convida-nos a reconstruir o Mito. E nas palavras de Heiner Müller “O mito é
um agregado, uma máquina à qual novas e diferentes máquinas podem sempre ser conectadas.
Transporta a energia até que a velocidade crescente faça explodir o campo cultural” – e, eu
acrescentaria, o campo da barbárie.
Podem os holofotes do teatro lançar luz sobre o trauma social, e parar de se iluminar a si mesmo
de forma enganadora?
Perguntas que não permitem respostas definitivas, porque o teatro existe e perdura graças a
perguntas por responder.
Perguntas desencadeadas por Dionísio, passando pela sua terra natal, a orquestra do antigo
teatro, e continuando a sua silenciosa viagem de refugiado por paisagens de guerra, hoje, no Dia
Mundial do Teatro.
Olhemos nos olhos de Dionísio, o deus extático do teatro e do Mito que une o passado, o
presente e o futuro, filho de dois nascimentos, de Zeus e Semele, que exprime identidades
fluidas, feminina e masculina, raivoso e gentil, divino e animal, no limite entre a loucura e a
razão, a ordem e o caos, um acrobata na fronteira entre a vida e a morte. Dionísio coloca uma
questão ontológica fundamental “de que é que trata tudo?”, uma questão que impulsiona o
criador para uma investigação cada vez mais profunda sobre a raiz do mito e as múltiplas
dimensões do enigma humano.
Precisamos de novas formas narrativas destinadas a cultivar a memória e a moldar uma nova
responsabilidade moral e política que emerja da ditadura multiforme da atual Idade Média.
Theodoros Terzopoulos
Tradução: Ricardo Simões / Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, Portugal.