Queimada do Judas no Largo das Neves
No passado dia 7 de junho, o Largo das Neves voltou a ser palco de uma simbólica
manifestação de cultura popular: a Queimada do Judas. Após 93 anos de aparente
interregno, a tradição cumpriu a sua 10.ª edição e assumiu um tom inusitado: Elon
Musk, que serviu de inspiração para o cortejo, o cenário e a encenação.
A Queimada do Judas, distingue-se por apresentar-se como um conceito aberto, que
se adapta aos tempos atuais sem perder o seu sentido simbólico. No centro do
espetáculo esteve o testamento e o auto de fé do Judas, elementos que mantêm viva
a sátira social e política. No final, uma dimensão quase ritual: a leitura do esconjuro
seguida da tradicional queimada galega, com o objetivo de exorcizar os pecados antes
da queima, concedendo ao Judas uma morte simbólica com absolvição e perdão.
A realização do evento contou com a colaboração das autarquias de Mujães, Vila de
Punhe, Barroselas e Carvoeiro e da Câmara Municipal de Viana do Castelo, em
conjunto com o Núcleo Promotor do Auto da Floripes 5 de Agosto, reforçando não só a
valorização das manifestações populares como também a cooperação entre as
comunidades que partilham a Mesa dos Três Abades. A cooperação entre estas forças
vivas tornou possível uma noite de forte expressão social, evidenciando o Largo das
Neves como espaço de afirmação cultural e como um ponto de encontro de amigos,
conterrâneos e familiares.

Foi gratificante ver os responsáveis políticos não só presentes, mas também atentos e
recetivos com o espírito crítico e satírico da Queima do Judas. A sua capacidade de
ouvir, compreender e integrar-se neste exercício de reflexão popular revela maturidade
cívica e respeito pela tradição como forma de expressão social.
Fica também um agradecimento a todas as pessoas que contribuíram para tornar este
evento possível, com destaque para a disponibilidade, dedicação e entrega de Carlos
Quintas Neves, Joaquim Castro, Daniela Chaves e Luís Magalhães, cujos esforços
foram fundamentais para o sucesso desta edição.
A Queimada do Judas mostrou, mais uma vez, que o Largo das Neves é palco
predileto para a cultura popular. Esta está viva, em constante transformação e pronta
para continuar a contar histórias, mesmo que para isso seja necessário um pouco de
fogo purificador.
